Ó bendito o que semeia livros, livros à mão


cheia... e faz o povo pensar!
O livro caindo n'alma é germe que faz a palma, é


chuva que faz o mar!


Castro Alves


sábado, 5 de fevereiro de 2011

Em casa de ferreiro...

Espeto de pau? Será? Meu filho tem passado maus bocados em relação a matemática. Saiu de uma escola pública em 2009 onde o ensino era referência em Caraguá até pouco tempo atrás. Obviamente, querendo o melhor para ele o matriculei em uma escola com o sistema Etapa de ensino. Sou um pouco alienada em relação à escola privada uma vez que minha realidade é outra e ele sempre conviveu no sistema municipal em que estou completamente envolvida, indo para o estadual em 2008 na 5ª série do ensino de 8 anos, onde permaneceu por dois anos consecutivos. Em 2010 ele penou para acompanhar a matemática nesta instituição. Inicialmente eu o apoiei no sentido emocional sempre afirmando que estava em processo de adaptação e que era assim mesmo. Frequentou alguns dias em período oposto como reforço ao raciocínio lógico-matemático. No segundo semestre já não dei-lhe tanta atenção, pois como está na adolescência pensei: ele precisa ter iniciativa e buscar por si mesmo, aprender a se virar. Ele reclamava e por vezes chorava dizendo: Como vou aprender inequação se eu não sei nem equação? Posso ter pecado mas, primeiramente eu ouço a escola, pois ela tem sua própria versão em relação à não apropriação do conhecimento pelo aluno. Neste caso, compareci a uma reunião e três professores, inclusive o de matemática que se mostrou amigo dos alunos, afirmou que o Marlon se junta com mais dois colegas e fica fazendo palhaçada no momento da aula. Ah, cheguei em casa e "massacrei" meu filho. Finalmente, concluiu o ano letivo dependente da matemática para 2011 para minha frustração. Imagine, meu filho sempre bem na escola! Nunca foi um Einstein, mas em leitura e escrita por exemplo, ele supera, pode acreditar, pseudo professores. Corrige alguns inclusive! Então, iniciei uma reflexão que preciso sintetizar: será que o menino está sempre errado? Seu comportamento não está sendo desviado para a brincadeira justamente porque a aula não atende suas necessidades? Sei que fazemos muitas coisas que não são do próprio interesse nesta vida, porém elas fazem parte. Portanto, precisamos enfrentá-la. Mas quando esta situação estende-se por muito tempo, não há Cristo que aguente! Cheguei ao cúmulo de dizer ao meu filho (não estabeleça juizo de valor para a afirmação) que, pelo menos tentasse entender um pouco para tirar nota na prova, uma vez que, dependendo da profissão que escolhesse, nunca ou, pouquíssimo utilizaria determinados conteúdos matemáticos e, mesmo assim, em algumas situações, poderia lançar mão de ferramentas que calculasse por ele. Olhe o desespero de uma mãe! Hoje, após uma semana de aula, este menino inicia sua reclamação sobre a descontextualização da matemática na escola. Então pensei: Este ano não serei conivente com o descaso. Não. Segunda-feira irei à escola e apresentarei a história da Chapeuzinho Vermelho em azerbaijano e latim ao professor e diretor e solicitarei que tentem descobrir o que significa. Que é um texto conhecidíssimo e se podem me contar. Pois é, assim que meu filho se sente. Vendo o professor explicando rápido no quadro, tão simples e de domínio para um professor, mas totalmente sem sentido para o aluno. Esta semana o Marlon pediu ajuda na resolução de um cálculo e, o professor foi explicando rapidamente, apagando no caderno do aluno o que tinha feito e resolvendo a questão com sua própria letra. O que a criança aprendeu? A ter mais revolta e se achar um "burro", como ele mesmo me disse. Se a escola puder e se dispuser a rever sua didática, levará em consideração a afirmação de Piaget (1948/1973) que diz:
Todo estudante normal é capaz de um bom raciocínio matemático se a atenção for dirigida a atividade de seu interesse, e se por esse método as inibições emocionais que muito frequentemente lhe dão um sentimento de inferioridade nas lições nesta área forem removidas.

Outro dia a professora de biologia levou-os ao laboratório e deua cada aluno um pé de galinha e estudaram o material. Imagine como o aluno chegou em casa. Todo animado, explicando o aprendizado. Quem quer ensinar, tem que estar disposto a ter trabalho.
Aguarde o desfecho...

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Ítalo Calvino

Se um viajante numa noite de Inverno

Escolha a posição mais cômoda: sentado, estendido, encolhido, deitado. Deitado de costas, de lado, de bruços. Numa poltrona, num sofá, numa cadeira de balanço, numa espreguiçadeira, num pufe. Numa rede, se tiver uma. Na cama, naturalmente, ou até debaixo das cobertas. Pode também ficar de cabeça para baixo, em posição de ioga. Com o livro virado, é claro.

Com certeza, não é fácil encontrar a posição ideal para ler. Pois bem, o que está esperando? Estique as pernas, acomode os pés numa almofada, ou talvez em duas, nos braços do sofá, no encosto da poltrona, na mesinha de chá, na escrivaninha, no piano, num globo terrestre. Antes, porém, tire os sapatos se quiser manter os pés erguidos (...).

Regule a luz para que ela não lhe canse a vista. Faça isso agora, porque, logo que mergulhar na leitura, não haverá meio de mover-se. (...) Procure providenciar tudo aquilo que possa vir a interromper a leitura. Se você fuma, deixe os cigarros e o cinzeiro ao alcance da mão. O que falta ainda? Precisa fazer xixi? Bom, isso é com você."
Tradução Nilson Moulin. Companhia da Letras, São Paulo, 1999.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Postura do coordenador

Incrível como o tempo passa e o que planejamos nem sempre é possível concretizar-se. Os projetos que desenvolvemos em nossa escola durante o ano de 2010 (Pequeno Mestre Cuca e Viajar sem sair do lugar - culinária e leitura) merecem uma avaliação e replanejamento para este ano, não como projetos e sim, como atividade permanente de rotina. O que gostaria de fazer este ano era organizar um portfólio com a sequência do trabalho disponibilizando material de consulta, oficializando assim, a história da escola. Durante o ano anterior contratamos uma empresa que filmou as ações pedagógicas e a rotina, apontando o dinamismo do trabalho. A II Mostra Cultural que aconteceu em novembro também apontou o efetivo trabalho de equipe e a dedicação das professoras com a exposição dos trabalhos executados durante as aulas. Esta semana uma colega coordenadora estava ansiosa com o trabalho da equipe de apoio pedagógico para a Educação Infantil da qual eu faço parte hoje, com muitos questionamentos que, em um primeiro momento, somente pude pedir a ela, CALMA! Um dos anseios foi: Como conquistar os professores a participarem efetivamente do trabalho com suas devidas necessidades como uma exposição ou apresentação, por exemplo, sem que os mesmos sintam-se participantes apenas por obrigação e não por envolvimento e comprometimento com o trabalho, destacando o aluno como protagonista do trabalho docente? Respondi calmamente que o professor necessita ter em mente suas atribuições, a linha de trabalho desenvolvida na escola e que, a educação de qualidade dá trabalho. Esclareci também que o gestor precisa colocar-se de maneira equilibrada entre a autonomia e sua autoridade. Não é a todo momento que devemos dar voz de escolha ao professor. Há situações maleáveis, ajustáveis, mas que devem acontecer. No caso das ações dos projetos que desenvolvemos percebi que, mesmo tendo sido planejado e aceito por todos apenas alguns estavam desenvolvendo-o na prática. Então, tratei o assunto em HTPC, elaborei um cronograma de ações com horários para utilização do varal de livros, biblioteca, execução da receita, utilização das áreas externas e cobrei que realmente o trabalho acontecesse com o professor gostando ou não. Obviamente o professor que já trabalhava continuou e o que nem havia começado, iniciou o trabalho, mesmo porque, o que está em jogo é o  aprendizado da criança e enquanto coordenadora, preciso subsidiar práticas que favoreçam a apropriação e produção do conhecimento pelas mesmas, sob pena de comprometer este aprendizado, além de ser conivente com práticas inadequadas. Necessito sim ter estabelecido um elo de confiança com a equipe docente, mas não posso deixar o corporativismo sobrepujar o profissionalismo e a ética. Portanto, quando o coordenador planeja a ação de trabalho que almeja desenvolver deve propor à equipe, solicitar sugestões, preparar-se para receber críticas e "botar a mão no trabalho" sem medo de ser feliz! Mas que nossa Mostra Cultural foi uma exposição feita pelos alunos com o acompanhamento do professor foi. De outra forma, jamais me subteria a registrar este evento neste espaço. Já estava em dívida com a equipe.